Já havia ouvido falar que o Rio mantinha comprometimento com um sistema de proteção espírita. O pacto para proteger a cidade de catástrofes, teve início na administração do ex-prefeito César Maia. Embora a pessoa que me disse sobre o tal pacto, fosse de idoneidade comprovada, eu precisava de algo mais concreto, mais elementos de comprovação. Quando ouvi, há cerca de um ano, percebi que o principal argumento já era fato: a tentativa de mudança das cores da Linha Vermelha, com alteração do nome da via para Linha Laranja, justamente a cor (coral), em homenagem ao “espírito protetor”.
A mesma foi a oficial da Prefeitura, também sinal de interferência na administração. A própria Linha Vermelha passou a contar com campanha de marketing, ao longo da via, com a indicação de mudança de nome/cor. Não pegou. A Linha Vermelha, que liga a Via Dutra, a partir da Baixada (Nova Iguaçu), a Ponte Rio-Niterói e Zona Sul, permanece como Linha Vermelha. Com a nova administração, a cor passou a ser azul, que predomina na bandeira do Estado.
Daí a César o que é de César e a Deus…
César Maia é conhecido como homem muito mistificado (“Que foi vítima de mistificação; iludido, burlado, logrado”, Aurélio). Mostrada certa vez pela mídia, a mesa de trabalho do escritório de César Maia mais parecia uma banca de artigos variados de camelô, que propriamente de um homem, no mínimo, sensato, de tantas imagens, totens, ícones, santos protetores etc.
Na verdade, ele logrou o povo, com uma administração abaixo da média. Deixou como principal marca o escandaloso superfaturamento da Cidade da Música, uma obra orçada em 80 milhões, com custos ampliados de forma mediúnica para 439 milhões, às vésperas da eleição municipal passada, e necessita de mais R$ 150 milhões para ser concluída.
Controle dos fenômenos climáticos
A informação que recebi de um amigo, ainda durante a administração do Maia, confirmou-se na matéria divulgada pela última Veja (29/julho/2009), página 96, Cidades, sob o título Mistérios entre o céu e as Prefeituras, e o subtítulo: As administrações municipais do Rio de Janeiro e São Paulo têm convênios com uma fundação mediúnica a qual elas atribuem o poder de mudar o clima.
A “empresa” espírita leva o nome de Fundação Cacique Cobra Coral e tem como marketing o “poder de interferir nos fenômenos climáticos através de uma entidade espiritual”.
Ao escrever a matéria, Silvia Rogar informa o seguinte: “A possibilidade da existência de mistérios entre o céu e a terra não é algo assim tão distante das convicções de milhões de brasileiros. Mas daí a celebrar convênios oficiais com espíritos vai um longo caminho”.
Em São Paulo, o marketing propalado pelo prefeito do Rio chegou através de email, segundo a revista, e a ideia foi abraçada pelo então prefeito José Serra, por meio do vereador Ricardo Teixeira, secretário-Adjunto de Coordenação das Subprefeituras. O atual prefeito Gilberto Kassab renovou o convênio por tempo indeterminado. No Rio, os “serviços do além” também foram prorrogados pelo prefeito Eduardo Paes. As renovações contratuais com o vulto do além, talvez tenham como força o nome usado.
O tal espírito não seria nada menos que o físico e matemático Galileu Galilei, segundo a “incorporadora” espírita, Adelaide Scritori. O cientista já fora penalizado pela Igreja Católica por contrariar a ignorância da mesma sobre fatos científicos. Seria novo castigo?!
O mesmo espírito depois se atualizou ao tempo e passou a ser Abraham Lincoln, tendo como pano de fundo a abolição da escravatura nos Estados Unidos. Porém, o mérito da abolição está mais para ações cristãs (leia-se protestantes), que propriamente ao célebre presidente norte-americano.
Quem sabe nos dois casos e espírito enganou-se com os nomes?! Pode ser, não é mesmo? Ou um erro de cálculo por causa de um mísero século… quem sabe?! Chico Xavier, por exemplo, confessou em entrevista que recebia a visita de um espírito brincalhão, que só aprontava e o fazia errar os cálculos das centenas de rezas, impostas pelos padres, como meio de exorcizá-lo. Ora, pode ser outro que fez carreira na mesma escola do além…!
Espírito sem traços, traços sem espírito
Pra começar, de cacique o espírito não tem sequer traços. Isso fica claro no bico de pena da fisionomia do personagem do além, estranhamente com todas as características humanas. Eu sempre pensei que um espírito dessa estirpe tivesse a aparência musgosa, de um chumaço de fumaça… sei lá, menos de um cara-humano…
Das matas, por onde andou o tal farejador de temporal, Adelaide chega à ciência moderna (depois de passar por seu criador, o cientista Galileu), e dá uma bisbilhotada básica no tempo, por meio de orientações de um professor aposentado da Universidade de São Paulo (USP), e ainda de um pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Essa assessoria pós-moderna ao pobre e desatualizado espírito indígena, eu diria que funciona como uma luz nas trevas. Ou então uma forma de fazer birra ao espírito, que já não manja nada de chuvas e trovoadas. Pode ser!
Como ganha e o que ganha a exploradora do espírito Adelaide, já que o convênio não tem, em contrapartida, pagamento? Antes devemos saber que isso pode ser algo… vamos dizer, além das normas do além, mesmo porque Lincoln não merecia isso, já que ele não seria adepto à escravatura, conforme argumenta Adelaide.
Segundo a revista, ela administra com o marido, Osmar Santos, uma corretora de imóveis e seguro. E para efetivar seus mirabolantes convênios é cobrado o pedágio-espírita de R$ 10 mil, livre de passagens, estadias e demais despesas de toda a equipe mediúnica. Um dos clientes da empresa é o Rock in Rio.
“Perturbadores dos retos caminhos”
Para conter esses homens públicos, sem nenhum constrangimento de agir de forma tão bárbara, somente homens com as mesmas características do profeta João Batista ou do apóstolo Paulo.
João, da nobre linhagem sacerdotal, tinha direito aos privilégios advindos da função, como sucessor do pai. Mas o que fez? Para não figurar como um simples eco, ele renunciou a tudo para tornar-se uma voz (“que clama no deserto”). E quem foi ele?
João refletiu o verdadeiro caráter de um servo do Senhor – em especial diante de uma situação como a de hoje – como mostra o Evangelho de Marcos: “porque Herodes temia a João, sabendo que era varão justo e santo; e guardava-o em segurança e fazia muitas coisas, atendendo-o, e de boa vontade o ouvia”.
Herodes, nome que procede de Heros (semi-deus), era o César Maia – e igualmente supersticioso –, Eduardo Paes, Serra ou Kassab, da época, com muito mais influência e poder, obviamente. João não queria nem saber da influência do homem. A ele mais importava obedecer a Deus que a homens (cf At 5.29).
E o apóstolo Paulo, diante de situação semelhante o que faria? É só dar uma olhadela no livro de Atos. Em Pafos havia um sujeito que também prestava assessoria oficial. Barjesus (Elimas) era igualmente um falso profeta judeu, encostado na autoridade local, o procônsul romano Sérgio Paulo (de também dois nomes), embora Lucas o tenha na qualidade de homem equilibrado (“varão prudente”), “significando que ele tem capacidade mental e não é engabelado pelo mágico”.
Porém, como era comum no mundo antigo, “o procônsul tinha atração pela magia e consultava feitiçaria e quiromancia a respeito de questões importantes. Entre os assistentes de Sérgio Paulo está o mágico Barjesus” (ARRINGTON, French e STRONSTAD, Roger Comentário Bíblico Pentecostal, 2003, 1ª Edição, Rio de Janeiro, CPAD).
A Bíblia diz que, embora Sérgio Paulo quisesse ouvir a mensagem verdadeira, propagada pelo apóstolo, o médium-assessor criava-lhe obstáculos. O apóstolo, cheio do Espírito Santo, não esperou para dizer-lhe: “Filho do Diabo, cheio de todo o engano e de toda a malícia, inimigo de toda justiça, não cessará de perturbar os retos caminhos do Senhor?” O apóstolo não para por aí e ordena que o mesmo fique cego por determinado tempo.
O testemunho da ação de poder na vida do homem de Deus, ao honrar o Senhor e repreender o Inimigo, na vida daquele homem, fez com que Sérgio Paulo cresse no Evangelho de Cristo e se convertesse ao cristianismo (Mc 6.20 e At 13.1-12).
Nossa postura
Hoje, além de não esboçarmos tal autoridade e nos alinharmos a homens públicos de caráter duvidoso e crenças espúrias, como os acima, os recebemos em nossas festas e não poucos prestam cultos a essas figuras. Enquanto isso, eles permanecem a praticar atos que ofendem a santidade do Criador e agridem qualquer seguidor de Cristo.
Não podemos fingir cegos, pois temos a obrigação de honrar as autoridades, mas sem jamais submetermos aos caprichos que vão de encontro aos desígnios divinos. Nossos irmãos da Igreja Primitiva foram perseguidos pela autoridade romana justamente porque não se dobravam aos césares e a suas ideias político-administrativas, que se opunham à crença divina.
Já estamos próximos de época semelhante.
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