As últimas eleições na CGADB passaram a ser a mola propulsora que alavanca e redesenha o perfil de obreiros entre as Assembléias de Deus. Alguns líderes já estão com a vara e cajado nas mãos, para enfrentar ataques maquiados de direitos e liberdades. Pastores perceberam que alguns cordeiros estão vestindo casaco de pele de lobo, e já andam de salto-alto.
A disputa na CGADB é legítima e o direito de acesso para liderar a obra eclesial é incontestável. Todos que demonstram capacidades, em especial àquelas preestabelecidas pelo Senhor, têm essa garantia. A partir daí, resta somente transpor alguns “simples” obstáculos como à vontade do Senhor.
A manifestação mais intensa e oficial sobre a sublevação ocorreu na última reunião da União de Ministros das Assembléias de Deus do Nordeste (Umadene). A entidade congrega pastores das ADs de todos os Estados nordestinos.
Pastores expuseram suas homilias e manifestaram, com veemência, a preocupação com o assunto. Eles perceberam foco de revoltas entre obreiros que já falam em insubmissão.
“Você é livre e pode fazer o que quiser”. Está é a principal frase que proporciona estrago na lavoura do Mestre. São raposinhas incendiadas, denominadas, com muita propriedade, por um dos líderes da Umadene de “baixo-clero”.
A mensagem da frase não contempla a liberdade preconizada pela anunciação do Evangelho de Cristo. Lança para a desfaçatez de o obreiro não submeter-se a domínios, ser livre e tomar todos os desígnios nas próprias mãos, sem dar satisfação de seus atos a quem quer que seja.
Todos sabem que a AD sempre adotou, como cópia da Igreja Primitiva e de toda a história de homens tementes a Deus, não proporcionar dispersão entre o povo. Buscar a unidade, indicada na Bíblia como “vínculo da perfeição”, é uma das principais metas da Igreja do Senhor, enquanto Corpo.
Relatos bíblicos que falam de facções entre o povo de Deus, mostram que as mesmas tiveram ponto de partida e artimanha semelhantes.
A primeira frase ocorreu em Gênesis. A Bíblia relata que o animal mais astuto de todos, a serpente, lançou uma nova mensagem, contrapondo o domínio divino, quando diz: “Certamente não morrereis” (Gn 3.1,4). Ora, era o signo perfeito para a posterior queda do regime de Vida Eterna estabelecido por Deus. Por meio da fragilidade humana, suscetível a construções paralelas, que soam como meio de se alcançar posição de elevada estima, o Criador seria atingido. O empolgante desejo de ser igual a Deus – proposto ao homem pela Serpente – é um eco que ainda tilinta nos ouvidos de homens obstinados.
Note que a própria serpente não deu garantias de ausência de morte, pois não afirmara: “Pode comer que você não vai morrer”.
A rebelião de Coré
No caso da rebelião de Coré os argumentos são semelhantes: “Agora chega! Todo o povo pertence a Deus, o Senhor. Cada um deles é de Deus, e o Senhor está no meio deles. Então por que vocês querem mandar no povo de Deus?”, Dt 16.3 (Linguagem de Hoje/SBB).
Segundo comentário da Bíblia de Estudo Pentecostal, a história relata a conspiração de levitas ambiciosos “para obter mais poder e uma posição mais elevada para si mesmos como sacerdotes”. Para isso, “Desafiaram a autoridade de Moisés e a ordem divina a respeito de Arão, de ele ser o único sumo sacerdote. Assim agindo, rejeitavam a Deus e à sua Palavra revelada a respeito do dirigente designado do povo de Deus”. E mais: “Corá e aqueles demais homens pensavam que poderiam escolher por conta própria os dirigentes do povo. Deus, porém, deixou claro que Ele estava no governo… Ele estabeleceu as sagradas qualificações para aqueles que devem servir no ministério (…) Quando os membros de uma igreja deixam de lado os padrões divinos para o ministério pastoral e procuram eles mesmos dirigir esse assunto, desprezando a Palavra de Deus, estão manifestando a atitude rebelde de Corá e dos demais que se ajuntaram a ele. A direção da obra de Deus deve basear-se na sua vontade revelada à igreja” (BEP).
Quem me dera ser o juiz de vocês!
O filho de Davi, Absalão tinha presença e todos os dotes visíveis para tornar-se rei. “Não havia… em todo o Israel homem tão belo e tão aprazível como Absalão; desde a planta do pé até à cabeça, não havia nele defeito algum”, 2Sm 14.25. Mas devido sua precipitação, Absalão foi parar em uma terra distante e, depois, mudou-se para Jerusalém, mas ficou privado da presença do rei. Para criar um fato e chamar atenção ele mandou pôr fogo no campo de Joabe. E mais, postava-se na porta do palácio, ouvindo as queixas do povo e aguçando-o para a rebeldia: “Vocês não têm que os ouça. Ah! Quem me dera ser juiz da terra, para que viesse a mim todo homem que tivesse demanda ou questão, para que lhe fizesse justiça!”, 2Sm 15.
Porfiar é como idolatria
A orientação bíblica “obedecer é melhor do que sacrificar” era sempre parafraseada pelo saudoso pastor Moisés Soares da Fonseca (Niterói-RJ), e complementada pelo líder com a frase: “Como é bom começar bem e acabar bem”.
Segundo o profeta Samuel, “a rebelião é como pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniqüidade e idolatria” (1Sm 15.22-23). Porfiar é “Discutir acaloradamente; contender, debater. Fazer empenho; teimar, insistir, obstinar-se. Competir, rivalizar, concorrer. Competir, rivalizar. Fazer por obter; disputar. Empenhar-se em; travar” (Aurélio).
Homens de sinais
A Bíblia alerta para as obras do “homem de Belial, o homem vicioso, anda em perversidade de boca. Acena com os olhos, fala com os pés, faz sinais com os dedos. Perversidade há no seu coração; todo o tempo maquina mal; anda semeando contendas. Pelo que a sua destruição virá repentinamente; subitamente será quebrantado, sem que haja cura”, Pv 6.12-15.
A Igreja do Senhor não pode assumir linguagem, táticas e formas profanas (tudo aquilo que faz oposição ao sagrado). Não podemos nos secularizar a ponto de esquecer que Senhor significa dono, proprietário, dominador, e que somos simplesmente servos.
Precisamos estar alertas para fatos concretos que estão ocorrendo e, com isso, ter o cuidado para não dar atenção excepcional ao temporal e se esquecer do eterno, daquilo que, realmente fica.
Os crentes de Roma, de origem judaica, grega e romana, disputavam entre comer e não comer carne, ou comer somente legumes, entre outros preceitos dietéticos. Outros se sentiam totalmente livres disso tudo e, portanto, progressistas. Paulo exorta os dois lados à renúncia e afirma que deveriam viver como consangüíneos, gerados pelo mesmo ventre (Rm 12.10).
Fora disso não há unidade, e fora da unidade não há igreja. O mundo precisa notar a diferença em nós, como prova da permanência de Cristo no seio da organização denominada igreja.
As aflições do mundo de hoje já não se caracterizam como perseguição de fora, mas dissoluções, facções e partidos no seio da igreja. São mostras da proximidade da Vinda de Cristo.