“Doutra maneira, que farão os que se batizam pelos mortos, se absolutamente os mortos não ressuscitam? Por que se batizam eles então pelos mortos?”, 1Co 15.29.
Neste versículo, o que o apóstolo dos Gentios, afinal, quer indicar?
Com certeza, é um dos textos bíblicos, que faz coro a outros de difícil explicação, e somente o que se encontra nas entrelinhas nem sempre satisfaz por completo.
Estudiosos e exegetas tem se debruçado nesse texto, sem, contudo, chegar à definição que satisfaça a todos. São cerca de 40 conclusões sobre a referida passagem, por diferentes estudiosos.
José Luiz Piñeiro, bacharel em Teologia e pós-graduado em Metodologia do Ensino Religioso religioso pela Universidade Regional/Blumenau-SC, fala de
J.W.Horsley, Newbery House Magazine (Junho de 1890), que alinhou nada menos que 36 diferentes explanações a respeito; todavia, a “maioria delas pouca atenção teve, e algumas poucas merecem séria atenção”.
REGISTRO DESSA HERESIA
Segundo pastor Samuel Guedes Correia, graduado em Teologia pelo Ibad, citando Lourenço Gonzal, ‘Assim Diz o Senhor’, além desse costume herético ter sido registrado no começo da Igreja, em que pessoas vivas eram batizadas em favor dos mortos – amigos ou parentes não batizados -, pensando os tais seriam salvos como que por procuração.
Samuel cita ainda Crisóstomo que explica como esse ritual era praticado em seu tempo: “Depois que um catecúmeno (alguém que ainda não fora batizado, mas que já estava preparado para o batismo) falecia, punham um homem vivo oculto debaixo de seu leito; então, aproximando-se do leito do morto, falavam com ele e indagavam se ele queria receber o batismo. Não dando ele resposta, o outro respondia em seu lugar. Assim batizavam ‘o vivo pelo morto.’” (O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, vol. 4, pág. 256, Russel Norman Champlin).
‘OS QUE SE BATIZAM’
Vejo luz nesse texto, quando faz indicação clara de quem são os tais batizandos: ‘os que SE batizam pelos (por) mortos’ (os que são batizados [tendo como referência testemunhal] os mortos).
Hering cita a preposição ‘hyper’, com o sentido de ‘em nome de’ ou ‘ao invés de’ (HERING, [ARRINGTON, F. L.; STRONSTAD, R. (Eds.) Comentário Bíblico Pentecostal: Novo Testamento. 1 ed., RJ: CPAD, 2003, p. 1054].
Fica então mais indicativo que tais batismos ocorreram envolvendo pessoas que ‘se batizavam’ por influência de quem já havia morrido, motivadas pelo testemunho de um crente já falecido, parente ou amigo.
Noto que meu entendimento está alinhado ao que poderia estar acontecendo em Corinto. A comunidade cristã teria se formado dentro da orientação comum de sepultar seus membros com memorial.
Consistia-se em uma sociedade que valorizava a inumação, formada de um grupo de voluntários que buscava a construção de epitáfio (tumular) de seus membros (Comentário Bíblico [Diane Bergant, CSA; Robert J. Karris, OPM, orgs], Vol. 3, 3 ed: set 2001, Ediçoes Loyola, São Paulo, 1999).
RESSURREIÇÃO:
CENTRO DO CONTEXTO
A indagação paulina lança para essa conclusão:
‘se absolutamente os mortos não ressuscitam? Por que se batizam eles então pelos mortos?’ Entendo que o apóstolo quer dizer o seguinte: ‘Se não há ressurreição, qual o valor desse batismo, tendo como força referencial o testemunho de crentes já mortos?’
Quanto ao possível rito na história da Igreja do SENHOR, não existe nenhum registro de tal fato. Não há tampouco como estruturar doutrina, pois só existe essa passagem e nada mais para dar suporte a uma possível forma doutrinal.
BATISMO COMO IMPRESCINDÍVEL
PARA A SALVAÇÃO
Também somente séculos depois de Paulo, após surgir o catolicismo romano é que surgiu a doutrina, de exclusividade católica romana, tornando o batismo como meio equivalente à salvação e, então, esse tipo de batismo, feito em nome de um morto, seria justificado.
Como ritual, esse sacramento destina-se aos fiéis romanos ‘para eles receberem a graça de Deus’.
Portanto, na doutrina do catolicismo romano, os sacramentos são imprescindíveis e se igualam ao valor sacrificial de Cristo para a salvação dos crentes por conferirem a graça de Deus, “o perdão dos pecados, a adoção de filhos de Deus, a conformação a Cristo Senhor e a pertença à Igreja”
Mesmo batizado ainda bebê, sem ter consciência ou decisão quanto ao fato, o ‘iniciado’ passa a ter sua salvação garantida.
SEM POSSIBILIDADE
Por fim, podemos mostrar a doutrina bíblica, a indicar que o pós-morte encerra toda e qualquer possibilidade de intercâmbio com a (os da) Terra.
Jesus mostrou essa doutrina quando trata do fato (e não parábola, como indica o título do texto – fora da canonicidade bíblica – de Lucas 16.19-31, com ênfase a partir do versículo 26: ‘E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá passar para cá.
E disse ele: Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai Pois tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de que não venham também para este lugar de tormento.
Disse-lhe Abraão: Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos.
E disse ele: Não, pai Abraão; mas, se algum dentre os mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam. Porém, Abraão lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite’, 26-31.
Moisés – a Torá -, e Os Profetas fazem parte da divisão das Sagradas Escrituras, o Velho Testamento, restando Os Escritos (Históricos) em que os Poéticos estão inclusos.
Essa questão de possível ligação entre vivos e mortos é fechada, dentre outros textos, desde o VT, com Hebreus 9.27: ‘E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo’.
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