Causou-se asco ver mais um, que se porta como aventureiro do evangelho (‘outro’, como diz Paulo aos Coríntios – 2Co 11.4), e tenta usar a suposta bênção do Senhor – a unção do sagrado – como fonte de barganha com o mundano. De forma rompante e defendendo o indefensável, postou artigo sob o título: Tô na bênção, tô com Dilma 13!, isto é, a bênção está nela ou sai dela para ele.
ATUALIZO este artigo ao inserir o oportuno texto do Comentário Bíblico, vol. 1, 3a edição, set/2001, Edições Loyola, São Paulo, 1999, em que afirma, algo que se assemelha a Feliciano, sob o título O Político Absalão – “Absalão agora adora uma vida de exibição, com carros, cavalos e homens que correm diante dele. Assumindo o papel de juiz para litigantes que vêm a Jerusalém e adulando os provenientes das tribos do norte, Absalão esforça-se para ampliar a brecha entre o norte e o sul em Israel. A imagem é a de uma pessoa de grande vaidade e perfídia”.
Não deixo de destacar a bondade divina, que por sua infinita graça pode usar gloriosamente o homem, como temos visto em inúmeros outros também. Mas daí a manter-se como referência tal qual Bunyan, Savanarolla, João Hus, Calvino, Saymor, Daniel Berg, Gunnar Vingren e tantos outros, dos quais damos testemunho, é outra história, pois, como afirma Provérbios “…o homem é provado pelos louvores” (27.21).
Faz-me lembrar de outros, da mesma laia, que tomaram o nome da candidata ao Executivo municipal Graça, em São Gonçalo (RJ), como sinônimo da Graça divina. Mesmo se dizendo ministros do Senhor, saiam pelas ruas, como verdadeiros garotos-propaganda – a preço barato –, afirmando: A Graça me basta!
Por outro lado, dá asca e vergonha saber que pessoas, que perderam a Graça do Senhor e fora atrás da busca para manter-se como famosos, embora não célebres. De que bênção fala esse rapaz?! Sua afirmação-posição está dentro do pensamento de Maquiavel: “Se o partido principal, seja o povo, o exército ou a nobreza, que vos parece mais útil e mais conveniente para a conservação de vossa dignidade está corrompido, deveis seguir o humor e desculpá-lo. Em tal caso, a honradez e a virtude são perniciosas”.
Porém, o Reino de Deus não abraça a filosofia “os fins justificam os meios” e longe dele estão os que se comportam dessa forma. Na igreja eles podem até aportar, pois nela estão o joio e o trigo e até à colheita permanecerão, mas não entrarão no Reino.
Esse e outros já se manifestaram usando o nome do Senhor (em vão), como trampolim para serem lançados no espaço da fama dos homens. Submeteram-se à proposta do Diabo, a mesma exposta ao Senhor e recusado pelo Mestre. “Se prostrado me adorares” ou submeter-se ao meu domínio. “Dar-te-ei a ti todo esse poder e a sua glória; porque a mim me foi entregue, e dou a quem eu quero” (Lc 4). Ora, o domínio pertence ao Senhor (Dono, Proprietário, Dominador…), mas o sistema, as glórias humanas estão sob as garras de Satanás, literalmente “o outro lado”.
Trocar o santo ministério – se é que a pessoa o recebeu do Senhor, conforme Hebreus 5.4 – por funções temporais é mais dignificante, que propriamente esconder-se nele ou apropriar-se do mesmo para buscar outros interesses, que não diz-lhe respeito.
São formas duvidosas de pessoas que vêm a público defender pessoas que teriam tratamento muito mais duro por João Batista. Este homem renunciou benefícios políticos, advindos do sistema de administração do Templo. Esta administração fora tão politizada que chegou a ponto de os sacerdotes fazerem vistas grossas a cordeiros doentes, oferecidos no Templo, para beneficiar os vendedores (cambiadores) e tirar benefícios, levando uma parte.
Batista, que recebeu este nome por conclamar o povo à purificação, por meio do batismo, e prepará-lo para receber o Messias – Cristo –, renunciou à função. Mas não foi para tentar manter-se como celebridade e alimentar tietes. Ele quis manter-se na verdade e, para isso, precisou isolar-se e não misturar-se ao sistema dominante! Ele deixou de ser um simples eco de um passado distante, para assumir a mensagem divina, expressada no “voz que clama no deserto”.
João não tinha tribuna, ouvintes, multidões e tietes, mas foi a voz divina. Estava possuído da mensagem da Vida como opção desejada ao rejeitar a proposta almejada pelo homem mundano e temporal, já bastante presente em seu tempo e no Templo.
O grão de trigo não se torna pão se primeiro não for pisado, moído. Se alguém quer a glória do trigo, que brilha – nos campos brancos -, precisa antes renunciar ao seu brilho, e, somente depois, tornar-se de sabor desejável ao Senhor da Seara.
Penso que qualquer um pode fazer o que bem desejar, como deseja, mas não tem o direito de usar a Palavra, o sagrado, para alcançar o profano. A Palavra alerta para que não usemos “da liberdade para dar ocasião à carne” (Gl 5.13). Querem transformar a verdade em mentira e esta em verdade, relativizar atuações, suavizar agressões à Igreja do Senhor, serem usados como matéria-prima na construção de ponte entre o Reino da Luz e o das Trevas. Entretanto, que comunhão tem a luz com as trevas, já perguntara o Senhor?!
Nota-se, sem nenhum esforço, que tais homens cuidam “que a piedade seja causa de ganho…”, e sobre esses a Bíblia exorta-nos: “…aparta-te dos tais” (1Tm 6.5). Apóstolo Paulo orienta o jovem obreiro Timóteo a fugir de tais tentações, provenientes do sistema mundano e insiste para que o obreiro siga o caminho proposto pelo Senhor, através do santo ministério, do qual Timóteo já havia dado testemunho de sua militância (cf 1Tm 6.10-12).
Com amor, mas também temor e zelo.
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