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Posts Tagged ‘Dionisio’

Quem e por que diz que a Bíblia pode ter sido mudada?

Não podemos dar uma versão nova para fatos eternos” (Escritor judeu).

Fiquei perplexo com tamanha desfaçatez do famoso teólogo Bart D. Ehrman, nomeado “Maior autoridade em Bíblia do mundo”, após a leitura do seu livro O que Jesus Disse? O que Jesus não disse?: quem mudou a Bíblia e por quê?¹. Dono de uma ficha invejável: “Ph D em Teologia, pela Princeton University e dirige o Departamento de Estudos Religiosos da University Of Nort Carolina, Chapel Hill, especialista em Novo Testamento, igreja primitiva, ortodoxia e heresia, manuscritos antigos e na vida de Jesus”, Barth abusa das possibilidades e sob tom condicional, parte da inversão de visão do que é direito para forçar a interpretação inversa.

Ao abandonar a fé cristã e tornar-se declaradamente agnóstico, nesse livro ele pratica um verdadeiro malabarismo para fundamentar suas teses e tentar, a qualquer custo, desmerecer a autenticidade bíblica. Foi então que reuni provas dentro de seu próprio escrito para refutar suas ideias notadamente esdrúxulas.

Seus escritos deixaram às claras o forte desejo de provar o improvável, das probabilidades que se discute nos dias atuais, com a nítida busca pelo sucesso, a partir da revelação do novo. Em um mundo de tendência ateísta não haveria outro caminho melhor de aceitação, senão o de tentar levar a crer que as Escrituras Sagradas (dos judeus) e a Bíblia (dos cristãos), Antigo e Novo Tratamentos, a Bíblia Sagrada não passa de uma farsa.

Muitos já tentaram isso e não é de hoje que homens se levantam com o mesmo propósito. Houve épocas, que pilhas de Bíblias aqueciam labaredas de fogo, numa forte investida para a destruição das Sagradas Letras. A estratégia atual mudou de rumo, mas o objetivo ainda continua sendo o mesmo. Pior: agora a tentativa é a de fazer desacreditar na sua inspiração, pois, a partir daí, não haverá mais valor algum, não mais que folclore, como querem.

Há um esforço descomunal e vigoroso, mas não menos parcial, de desacreditar o texto sagrado, mas nenhum livro na História humana atravessou séculos sem sequer ser alterado, sempre evidenciado em todas as sociedades, como as Sagradas Letras. Isso intriga muita gente, em especial aqueles que procuram “chifre na cabeça de cavalo”, como dizia minha saudosa e querida mãe. Não vão encontrar, senão pelas falácias da teoria (não mais que teoria) da evolução.Essa tentativa busca algo semelhante às teorias evolucionistas, com o intuito de lançar descrédito e vigorar os ataques ao cristianismo.

Argumentos agnósticos

Segundo Bart, após seus primeiros estudos e envolvimento aos círculos eruditos, os primeiros passos foram os questionamentos de suas próprias convicções que “tem de ser revistas à luz do conhecimento acumulado e da experiência de vida”.

Seu primeiro questionamento, a partir do momento em que seus “estudos começaram a” transformá-lo, ele escolhera a “passagem de Marcos 2, quando Jesus é confrontado pelos fariseus porque seus discípulos, ao atravessar um campo de trigo, comeram grãos no Sábado”. Jesus passa então a mostrar aos fariseus o fato semelhante ocorrido entre Davi e seus homens, quando entram no Templo “quando Abiatar era o sumo sacerdote’ e comeram o pão da proposição, que só os sacerdotes podiam comer”. 

Bart continua a afirmar sobre um de seus primeiros trabalhos e base de outros questionamentos, afirmando que Jesus citara 1Samuel 21.1,6, onde “vê-se que Davi não fez nada disso quando Abiatar era o sumo sacerdote, mas, de fato, quando o pai de Abiatar, Ahimelec, o era. Em outras palavras, essa é uma daquelas passagens destacadas para demonstrar que a Bíblia não é infalível; ela contém erros”, afirma o famoso teólogo e escritor.

Porém, esse argumento de Bart, base para dar o suporte ao início de seu agnosticismo, atropela a cultura de época, introduzida ao texto bíblico, quando um nome ou data é alternado por outro – do pai pelo filho, por exemplo, sem absolutamente nenhum prejuízo à ideia principal. A pretensa “falha” também é gritante e pode ser detectada no primeiro esforço de busca pelo sentido da mensagem.

Conforme Bart, a afirmação do Senhor Jesus, conforme Marcos 2.3-28, destoa do texto referência no Antigo Testamento (1Sm 21.1-6), “quando Abiatar era o sumo sacerdote”, porque o sumo sacerdote em exercício era o pai de Abiatar, Aimeleque.

Em primeiro lugar, deve-se levar em conta que o foco principal do texto não está atento aos fatos narrados, mas sim ao ensino de Jesus, que Bart enuncia: “Jesus quer mostrar aos fariseus que ‘o Sábado foi feito para os humanos, não os humanos para o Sábado”’.

Mesmo assim Bart tenta usar este fato para desacreditar a Bíblia, porém, conforme comentário de rodapé da Bíblia de Genebra² “… foi Aimeleque, pai de Abiatar, que deu a Davi o pão consagrado. Contudo, Abiatar certamente estava vivo e, talvez, presente quando ocorreu o incidente referido. Portanto, ‘no tempo do sumo sacerdote Abiatar’ é frase rigorosamente certa. É provável que Jesus tenha referido a Abiatar porque ele era bem conhecido como um dos defensores de Davi” (o grifo é nosso).

Fatos semelhantes ocorrem com relação a datas e nomes, conforme a questão que tomo envolvendo os reis Roboão e Zedequias. A época do reino dividido de Judá é de 345 anos (931-586), e neste período, os reis de Roboão e Zedequias governaram 382 anos?

Neste caso a dúvida se prende à questão da continuidade dos reinos. Na maioria dos casos, o reinado passava de pai para filho. Acontecia também que filhos passavam a governar paralelamente ao pai, isto é, governavam, mas o pai ainda continuava no trono. Então um entrava na contagem do outro.

Exemplo: O pai poderia estar no ano 30 de seu reinado e o filho no 3 (por ter iniciado três anos antes). Quando o pai morria, o filho passava a contar, não a partir da morte do pai, mas desde quando começara a governador com o pai (ao lado do pai). Se o pai morresse no ano 35, por exemplo, o filho já estaria no ano 38. 

Se é possível complicar, para que simplificar?

Embora reconheça a importância das cartas bíblicas, quando diz: “De fato, havia um espectro extraordinariamente amplo de literatura sendo produzido, disseminado, lido e seguido pelos primeiros cristãos, algo bem distinto de tudo o que o mundo romano pagão havia visto até então” e ainda: “Afirmo que as cartas eram muito importantes para a vida das primeiras comunidades cristãs. Elas eram documentos escritos que orientavam tais comunidades tanto em sua fé como em sua prática”, Bart usa suas próprias informações para lançar o descrédito a partir de suas insinuações, mas, se as cartas são documentos importantes e imprescindíveis à Igreja, por que deixariam que as mesmas fossem tão alteradas como ele tenta mostrar? 

Condições sociais dos cristãos

Um de seus argumentos tenta desmerecer a condição sócio-econômica dos primeiros crentes. Fato interessante que sua crítica textual não leva em conta é que “Os cristãos da Ásia Menor e da Europa preocupavam-se em ser bons cidadãos do Império romano, governo que fora tratado como intruso por muitos dos contemporâneos de Jesus na Palestina. Muitos cristãos da nova geração não eram pobres, mas abastados, mais urbanos que rurais”.³

Outro fato que diz respeito à prosperidade dos cristãos, está na intenção de Lucas levar aos seus leitores, que detém vida de classe média e urbana, com ênfase à cidadania romana de Paulo e a honrosa conduta como cidadão, por seus direitos (At 16.37-40; 22, 26; 18.14-16) e Jesus como cumpridor de seus deveres (Lc 20.25; 23.2).

Lucas fala ainda dos ricos e pobres, ligação dos cristãos com os bens temporais, o que deve ser empregado com o semelhante, e relações pessoais (12.13-43; 14.25-33; 18.22; 14.26). Por outro lado, Lucas fala de si mesmo e identifica-se aos seus leitores e admite não ser testemunha ocular dos fatos narrados, concernentes à vida de Jesus. Na mesma época, a história da Igreja circulava por todo o império por meio de escritos, por ensinadores das doutrinas cristãs em comunidades evangélicas e também por meio de pregadores.

Atos, o endereçamento a Teófilo, que indica ser um líder da época, ainda rico e em condições de fazer cópias do livro e distribuir entre os membros das comunidades cristãs. Embora não houvesse a intenção de reproduzir o texto para os demais, como uma proliferação dos escritos para leitura individual, pois o que se fazia era a leitura nos cultos para os demais, não nos parece viável que um homem com capacidades socioeconômicas avantajadas tenha dificuldade de distribuir cópias legítimas e fiéis aos originais, como “editor” tanto de Atos quando de Lucas. O estilo de Atos, com estilo helenístico, recebe ainda elogios comparáveis aos melhores escritos bíblicos, conforme Josefo, Dionísio de Halicarnasso, conforme William S. Kurtz. ³

Inspiração e fé

Uma das razões que intrigam os críticos – talvez a principal – e que os distanciam de crer na inspiração, levando-os a criar obstáculos para desacreditar a Palavra, como obra inspirada do próprio Deus, por meio da ação do Espírito Santo no homem, são os inúmeros de milagres. A ação sem lógica e explicação humana os deixa intrigados. Como verdadeiros homens e céticos têm suas dúvidas ampliadas e jamais respondidas, pois muitos fatos sobrenaturais e compreendidos somente pela fé, conforme Hebreus (…) e que a razão jamais alcançará.

Todo esse efeito cético constitui atualmente ênfase entre o homem pós-moderno, que recebe forte influência da Filosofia das luzes, movimento filosófico do século 18, com base na confiança no progresso e na razão, pelo desafio à tradição e à autoridade e pelo incentivo à liberdade de pensamento (Iluminismo).

Será mesmo que a Bíblia não trata de temas atuais?

Bart ainda não consegue enxergar na Bíblia tratados sobre temas atuais, quando diz: “E se a Bíblia não der uma resposta a toda prova para as questões dos tempos modernos – aborto, direitos das mulheres, direito dos homossexuais, supremacia religiosa, democracia ocidental”. Ora, o que Davi fala de ser conhecido pelo Senhor ainda informe, em Salmos, dentre inúmeros outros textos, como da Lei de Moisés, que trata diretamente do assunto, bem como da questão homossexual, além de Romanos 1. 

As conquistas das mulheres tiveram como base da doutrina cristã. O Dia das Mães fora estabelecido pela igreja cristã nos EUA e o mesmo ocorreu com relação à questão dos direitos das mulheres no trabalho, com a greve para a diminuição da carga-horário, além da licença-maternidade e outras conquistas ocidentais, com base na doutrina cristã, portanto, não vistas no oriente, como o direito de descanso no primeiro dia da semana – o domingo. 

Paulo sempre citara suas cooperadoras em seus textos, Jacó, ainda no VT ouve suas esposas antes de tomar a decisão de sair do domínio do próprio sogro, e Paulo exorta a que os maridos amem suas esposas como se a si mesmos (Ef 5.25-33).

Quanto ao domínio religioso Noé profetizara no capítulo 9.25-27 de Gênesis, o que vemos hoje não só na questão do Ocidente, mas também das religiões, ao falar dos desígnios de seus três filhos, retratando a supremacia religiosa dos semitas (origem das três maiores religiões do mundo), de Jafé, com seus descendentes os indo-europeus, a supremacia sócio-econômica, dentre outras tantas relações bíblicas com a História e a própria atualidade.   

Mito da Caverna

Se a Bíblia fora tão amplamente alterada, como tenta afirmar o teólogo Bart, e que o teria levado a descrer nos escritos sagrados, por que o mesmo não ocorre hoje, quando se tem tantos meios para isso, ao contrário da época em questão?

Atualmente existem inúmeros outros elementos que servem de alavanca para as possíveis e desejadas transformações. Estes meios seriam sem limites, a comparar com os existentes nos tempos primórdios do cristianismo. Leve-se em conta as proporções e intensidade de interesse, quanto a tudo o que diz respeito à proteção e preservação do texto sagrado.

Bart adentra o Mito da Caverna de costas, pois parece-me que jamais quis pôr somente o nariz e depois entrar de costas, para introduzir-se aos poucos, porque essa jamais foi a sua preocupação, conforme analogia de sua própria construção cristã, que não passara de retórica. Embora se diz de raízes cristãs, Bart afirma que sua mãe lia a Bíblia em família certificando-se “de que suas histórias e ensinamentos éticos fossem bem entendidos por nós (sem se prender muito às suas ‘doutrinas’).”.

Ehrmam tenta claramente interpretar fatos da História sob a perspectiva de sua tese, sem ser, sequer, um minuto imparcial. Até mesmo os comentários que daria o start para outro olhar, são usados para a satisfação unilateral. Existem muitas verdades históricas descritas no livro, algumas boas de serem usadas; até mesmo as que ele usa com veemência contra a fé cristã, se usadas no sentido da indicação do texto (ao contrário), são igualmente ótimas. 

Com racionalidade tomo então seus próprios argumentos para rebater suas críticas. O oportuno comentário da Bíblia de Estudo Pentecostal sobre o assunto, diz: “João termina o livro do Apocalipse com uma advertência sobre a possibilidade de perdermos nossa parte na árvore da vida e na cidade santa. Evitemos uma atitude descuidada para com este livro, ou qualquer parte das Sagradas Escrituras. Outra atitude a evitar é a de optarmos por crer somente em determinadas partes da revelação de Deus e rejeitarmos outras partes que não gostarmos (v19), ou o caso de ensinar nossas próprias ideias como se estas fossem a própria Palavra de Deus (v18). Como ocorreu no princípio da raça (sic) humana na terra, deixar de cumprir plenamente a Palavra de Deus é questão de vida e morte (ver Gn 3.3-4)”. 

Desde o Éden, Satanás manifesta-se contra tudo o que chama Deus ou se adora (2Ts 24). “E não terá respeito aos deuses de seu pai” (Dn 11.37). Satã no hebraico (demônio) tem a raiz no verbo impedir, bloquear. Na tradição judaica Satã é o “outro lado”, explica Nilton Bonder (O holismo rabínico).

Superficialidade cristã

Existem algumas máximas cristãs que apontam para a vida superficial que, por sua ausência, facilmente transformam tal superficialidade em espuma jogada às margens, para depois se dissolver e virar fumaça. A Palavra alerta para o perigo de uma vida cristã superficial e sem engajamento espiritual: “Não havendo sinais (profecia) o povo se corrompe”, e o apóstolo Paulo diz: “… o nosso evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também em poder, e no Espírito Santo, e em muita certeza…” (1Ts 1.5). Esse mesmo equipamento necessário e permanente na vida do crente foi predito pelo profeta Joel: “E mostrarei prodígios no céu e na terra, sangue, e fogo, e colunas de fumaça… E há de ser que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”, 3.30-32. 

Assim a evidência de sinais de prodígios e operação de maravilhas acompanhavam a pregação dos discípulos (Mc 16.17), desde o “Ide” pela Grande Comissão a Igreja: “E disse-lhe: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado… Ora, o Senhor, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu e assentou-se à direita de Deus. E eles, tendo partido, pregaram por todas as partes, cooperando com eles o Senhor e confirmando a palavra com os sinais que se seguiram. Amém!”, Mc 16.15-16,19-20.

E já na introdução do seu livro percebe-se uma das causas de sua pétrea defesa da pretensa obscuridade bíblica. “Nasci e cresci em um tempo e lugar conservadores – a área central dos Estados Unido da América, em meados da década de 1950. Minha criação nada teve de extraordinário. Éramos uma família normal, de cinco membros que iam à igreja sem ser especialmente religiosos. Começando pelo ano em que seu estava na 5ª série, estávamos envolvidos com a igreja episcopal em Lawrence, Arkansas…”.

Uma das travessuras de Bart, “já no ensino médio”, junto ao filho do pastor de sua igreja, envolvia charutos. Hoje ele se junta ao grupo de teólogos que discutiam Teologia batendo seus cachimbos à mesa, na Idade Média. 

Embora sua igreja fosse “socialmente respeitável e socialmente responsável” “… a Bíblia não era abertamente ressaltada”. Ele diz ainda: “Nós realmente não falávamos muito sobre a Bíblia, nem a líamos muito”.

Das informações que vão dar base para a análise de credibilidade e reconhecimento do ponto de vista de independência ou não de sua tese, com conteúdo ou não de possíveis desvios, a partir da formação de seu caráter, e que, portanto, forneceria elementos de influência em opinião futura (visto tratar-se de uma questão religiosa), temos ainda o seguinte: “Lembro-me que sentia uma espécie de vazio interior, que nada parecia capaz de preencher, que não saía muito com meus amigos (nós já tínhamos começado a beber socialmente nas festas), que namorava (começava a entrar no mysterium tremendum do mundo do sexo), que estudava (eu dava duro e tirava boas notas, mas não era nenhum crânio), que trabalhava (eu era vendedor porta a porta de uma firma que comercializava produtos para venezianas)… (…). Eu sempre achava que faltava algo”.  

O que ainda fundamenta o distanciamento da fé cristã, para deixar claro o primeiro ponto, foi a influência de Princeton. O ex-seminário presbiteriano tem história semelhante a do congênere Harvard, fundado pelo pastor John Harvard – o de formar obreiros. Ao contrário disso, embora ainda neles resistem os referenciais cristãos, os dois centros passaram a figurar como formadores de agnósticos, ateístas, materialistas e humanistas.

De tudo o que temos na exposição da incredulidade do teólogo Bart, ressalta aos olhos a exposição espetacular – própria do homem pós-moderno – de suas revelações, que acaba por desvendar as premissas, que, consequentemente, indicam causas e efeitos.

“E uma vez mais, meus amigos evangélicos me avisaram que eu não deveria ir para o Seminário de Princeton, porque, segundo me disseram, eu teria dificuldade em encontrar cristãos ‘verdadeiros’ lá. Afinal de contas, Princeton era um seminário presbiteriano, um solo não exatamente fértil para cristãos ‘renascidos’. Contudo, meus estudos de literatura inglesa, filosofia e história – para não falar do grego – tinham ampliado significativamente meus horizontes. Eu estava apaixonado pelo conhecimento, em todos os seus campos, sacro ou secular. Se aprender a ‘verdade’ significasse não mais me identificar com os cristãos renascidos que eu conhecera no ensino fundamental, que assim fosse. Meu interesse era avançar em minha busca da verdade, onde quer que ela me levasse, na confiança de que toda verdade que eu aprendesse não era menos verdade por ser inesperada ou impossível de enquadrar nos pequenos escaninhos fornecidos por minha experiência evangélica”.

O desequilíbrio, mola propulsora para o registro de extremos, é notório

Como disse meu velho e saudoso pastor, certa feita, ao tecer comentários sobre um colega de seminário, após demonstrar significativas mudanças, protagonizadas pela assimilação da filosofia da Teologia da Libertação: 

           – Ele cresceu na letra e caiu no Espírito!

É sempre bom observar as considerações de pessoas que estão do lado de fora daquilo que ocorre conosco. Dizem que as tais enxergam melhor e, por não estarem envolvidas emocionalmente com o fato, caso, ocorrência, situação ou circunstância, têm melhores juízos que nós mesmos. E é o que notaram os amigos de Bart. Eles já previam o que deveria ocorrer com aquele novel teólogo. Com certeza seus comentários diziam respeito à análise do caráter daquele jovem, talvez pela superficialidade de sua crença e de suas deficiências estruturais de fé, conforme ele mesmo aponta, em sua época do Seminário Moddy (Moddy Bible Institute): “Acho que eu o encarava como uma espécie de acampamento cristão militarizado”. Essa idéia mostra-se débil, desencontrada, e mítica, totalmente destoada da realidade da fé cristã. Ela indica ainda o arquétipo de um futuro de desconstrução, próprio dos que foram impactados pelo Iluminismo, por suas bases inseguras e instáveis. 

Erros e erros

Como o grande descobridor Bart toma Orígenes que teria falado “do ‘grande’ número de diferenças entre os manuscritos dos Evangelhos; mais de cem anos depois, o papa Dâmaso estava tão preocupado com as variedades dos manuscritos latinos que encarregou Jerônimo de produzir uma tradução-padrão; e o próprio Jerônimo teve de comparar numerosas cópias do texto, em latim e grego, para decidir qual texto ele pensava ter sido originalmente redigido pelos autores”.

Temos alguns erros que não dizem respeito à revelação e isso fica claro à medida que acaba sendo corrigidos, sem, contudo, alterar o sentido da mensagem ou desmerecer a própria inspiração. Citamos o caso de 2Samuel 15.7, que lança a dúvida entre 40 e 4 anos: “E aconteceu, pois, ao cabo de quarenta anos, que Absalão disse ao rei: Deixa-me ir pagar em Hebrom o meu voto que votei ao Senhor” (2Sm 15.7).

Algumas versões grafam 40 anos e outras 4 anos. Qual é a correta?

A explicação diz respeito aos manuscritos disponíveis à época de Almeida (século 17). Alguns poucos manuscritos (cópias datadas dos séculos 11, 12 e 14) trazem “quarenta”. Já a maioria dos manuscritos do Antigo Testamento (datados dos séculos 2 a 9) trazem “quatro”. A Revista e Corrigida (RC) baseia-se nos manuscritos disponíveis ao tempo de Almeida; a RA e a NTLH, em manuscritos mais antigos e melhor conservados.4

Revelação a Paulo

Quanto à Revelação do Senhor a Paulo parece que há controvérsia nos registros apresentados em Atos 9, 22 e 26: 

“…indo, então, a Damasco… ao meio-dia, ó rei, vi no caminho uma luz do céu, que excedia o esplendor do sol, cuja claridade me envolveu a mim a aos que iam comigo. E, caindo nós todos por terra, ouvi uma voz que me falava e, em língua hebraica, dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? Dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões. E disse eu: Quem és, Senhor? E ele respondeu: Eu sou Jesus, a quem tu persegues” (At 12-15).

As dúvidas dizem respeito à participação dos companheiros de Saulo na questão da cegueira, a voz e respectiva mensagem: Eles teriam também caído, também ficaram cegos, ouviram também a voz? A idéia que se tem é que as três passagens em Atos destoam.

Enquanto ia pela estrada de Damasco, por volta do meio-dia, quando o Sol está no seu mais intenso brilho, Paulo viu uma luz do Céu mais radiante que o brilho do Sol. Brilhava ao redor dele e de seus companheiros (At 26.13) “(…) Paulo e seus companheiros foram subjugados pela luz milagrosa e caíram ao chão. Nada é dito sobre os companheiros caindo ao chão em Atos 9.4 e 22.7, nem Paulo diz qualquer coisa aqui sobre de ter ficado cego”. 3

Até aí não há nada contraditório, pois a narração repetida de um fato pode variar de acordo com as circunstâncias. Devemos considerar os objetivos de Paulo e o endereçamento de suas afirmações. É importante notar o seguinte:

1) No primeiro caso, em Atos 9, o livro narra o acontecimento. 

2) Em Atos 22, Paulo fala aos judeus e usa a visão para persuadi-los sobre a realidade do Messias, e, por fim, 

3) em Atos 26, ele anuncia a visão ao rei Agripa.

Às vezes, Paulo fala somente dele – destaca a sua pessoa – e não inclui na história os demais que estavam com ele. Isso é válido, pois o evento diz respeito a ele, tão somente. 

Em Atos 9 ocorre a revelação do Senhor a Saulo; em Atos 22 temos o discurso aos judeus; e em Atos 26, Paulo está perante o rei Agripa.

Aparentes divergências

Atos 9.7 e 22.7 – somente Saulo caiu por terra. 

Atos 26.7 – no discurso a Agripa, Paulo fala que todos caíram. 

Atos 9.7 – todos ficaram mudos, depois de ouvirem a voz, mas sem ver ninguém. 

Atos 22.9 – todos viram a luz, mas não ouviram a voz.

A questão está na divergência da construção gramatical

Atos 9.7 o grego liga-se ao genitivo – “Caso de declinação de certas línguas, que representa, por via de regra, complemento possessivo, limitativo, e algumas vezes circunstancial”.5

Atos 22.9 – tem a ver com o acusativo.

Atos 22.9 – significa ouvir a voz e entender o que se diz, enquanto a outra forma indica ouvir o som da voz, sem entender o que se diz ou o sentido da declaração.

 Carta em resposta

Em 1Coríntios 7 Paulo responde carta aos coríntios, prática comum na época e meio predominante na comunicação. Embora a carta fosse postada pela igreja, sem ter propriamente um remetente em particular, o que seria comum, caso fosse de um intelectual da época, o apóstolo, homem letrado e sábio, um verdadeiro literato, não fez nenhum comentário ao que poderia saltar-lhe aos olhos, quanto a possíveis tropeços gramaticais, ou a menos, pontos mal escritos, dúbios, mal explicados, ruim de entender ou ler etc. 

Mas, ao contrário do que Bart tenta arquitetar para desmerecer o texto bíblico, ao afirmar que as cartas e respectivas cópias eram feitas por homens incapazes, mal letrados, Paulo, em momento algum observa possíveis falhas.

Também para derrubar suas afirmações sobre cartas mal escritas, sem técnicas de construção de texto, é só dar uma olhada em 1Coríntios e perceber que a construção da carta segue uma técnica bastante avançada para a época. O apóstolo constrói uma introdução nos primeiros capítulos, com elogios aos coríntios, até chegar ao momento em que expõe o principal motivo da mesma, e chamar atenção pelas falhas existentes naquela igreja.  

Crítica em cima de 1% de erro sem influência alguma

Em resposta a Bart alguns biblistas e especialistas em História Antiga, falam das inconsequências do autor, quando afirma que os manuscritos nos quais baseamos não são confiáveis. Suas afirmativas são apelativas e Bart não é honesto em suas críticas, mas toma aquilo que lhe interessa e despreza o que está escondido à visão de leigos.

O doutor Paul Meyer, professor de História Antiga da Western Michigan University (EUA) é um dos que discorda de Bart e declara que o próprio tempo e a evolução das descobertas dão-nos uma visão e leitura mais perfeitas de todo o conteúdo bíblico, a partir de novos manuscritos descobertos, sem mudanças substanciais.

Ele analisa, por exemplo, a edição King James, de 1611, que teve como base seis manuscritos. Mas sua edição revisada de 1870 contou com dois mil originais gregos. Além desse crescimento, em termos de elementos que podem confrontar tais oposições, atualmente os estudiosos contam com nada menos que 5.700 peças inteiras ou parciais. São riquezas que podem ser usadas para comparar e chegar ao texto mais perfeito possível, levando em conta a originalidade, segundo doutor Paul, apresentado por John Rabe.

Portanto os críticos textuais utilizam regras mais exigentes e são capazes de chegar mais próximo possível das bases, argumenta o especialista. Ele diz ainda que as 2 mil variações existentes no Novo Testamento afetam somente 1% do seu conteúdo. 

De posse de grande número de manuscritos é possível chegar quase que 100% dos originais e corrigir qualquer erro de tradução que pode ter ocorrido no decorrer da história. Esta informação derruba a força que Bart tenta imprimir em seus argumentos. 

Já o doutor Timothy Paul Jones, do Seminário Batista do Sul dos EUA, também apresentado por Rabe, diz que quando Bart alega que há entre 200 mil e 400 mil variantes entre todos os manuscritos do Novo Testamento deixa a impressão que as somente 138 mil palavras do Novo Testamento são todas erradas. Indica que há muito mais diferenças nos manuscritos do que palavras, e se assim fosse não poderíamos, realmente, confiar no que o Novo Testamento diz. 

Timothy chama a atenção para a desonestidade do famoso teólogo e afirma que Bart não diz que mais de 99% dessas variantes nem mesmo se nota na sua tradução em inglês, pois envolvem somente diferenças de ortografia ou nuances do grego (que se pode detectar facilmente). São erros tão gritantes de tradução que não dariam nem mesmo para ser traduzidos, uma vez que são facilmente perceptíveis e nem mesmo daria para escreva-las novamente, tamanha a notoriedade.

Os outros 1% não tem nenhuma influência nas verdades ensinadas por Jesus no Novo Testamento. As “falhas” apontadas não tocam nem mesmo de longe no conteúdo dos ensinos de Jesus, na historicidade bíblica, nas doutrinas esboçadas no NT e na ortodoxia bíblica. 

O que Bart tenta é forçar as ondas que empurram a espuma para a margem a seguir trajeto contrário, além de ignorar a imensidão do próprio mar e se ater às pequenos blocos de espuma que somem na própria areia, sem jamais ser visto novamente.

Antônio Mesquita é jornalista, graduado em Teologia pelo Ibad; ministro do Evangelho autor dos livros Tira-dúvidas da Língua Portuguesa; Ilustrações para Enriquecer suas Mensagens; Pontos Difíceis de Entender; e Fronteira Final/CPAD; O Mundo das Palavras (Netser); e Manual do Ministério Cristão (Lopes Editora).

Bibliografia

1) O que Jesus Disse? O que Jesus não disse?: quem mudou a Bíblia e por quê?¹/Bart D. Ehrman; tradução Marcos Marcionilo – São Paulo: Prestígio, 2006).

2) Bíblia de Estudo de Genebra. São Paulo e Barueri, Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. 1728 p.

3) Comentário Bíblico, Edições Loyola, Vol 3 (Evangelhos e Atos, Cartas, Apocalipse), 3ª edição: setembro de 2001, Edições Loyola, São Paulo, Brasil, 1999. 

4) Mesquita, Antônio, Pontos Difíceis de Entender/CPAD, 2006.

5) FERREIRA, Ebenézer Soares, Dificuldades Bíblicas e Outros Estudos, da União Brasileira de Escritores – Seção de Campos; Sociedade Brasileira de Romanistas; Academia Evangélica de Letras; The American Schols of Oriental Research – Casa Publicadora Batista (Edição do Autor, Campos , Rio de Janeiro, 1965).

BRUCE,  F.F. Paulo Apóstolo da Graça: Sua vida, Cartas e Teologia. Trad. Hans Udo Fchs.

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