Confesso que fiquei pasmo, estarrecido, estupefato e não menos triste, quando vi em plena televisão, no programa Movimento Pentecostal, pela Rede TV (dia 12), o diretor da Casa Publicadora das Assembleias de Deus, Ronaldo Rodrigues de Souza, batizando uma pessoa em águas, em igreja no Rio.
Ocorre que Ronaldo nunca fora consagrado a qualquer função ministerial por não ter recebido o batismo no Espírito Santo. Na doutrina pentecostal, em especial assembleiana, todo e qualquer obreiro para ser levado tanto ao ministério quanto ao oficialato da igreja, necessita, primeiramente, passar pela confirmação do Senhor, que se dá pelo batismo no Espírito Santo.
Desde os diáconos a Bíblia estabelece a escolha de irmãos ‘cheios do Espírito Santo’. “Ora, naqueles dias, crescendo o número dos discípulos… E os doze, convocando a multidão dos discípulos, disseram: Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus e sirvamos às mesas. Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete varões de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais constituamos sobre este importante negócio… E este parecer contentou a toda a multidão, e elegeram Estevão, homem cheio do Espírito Santo, e Filipe, e Prócoro, e Nicanor, e Timão, e Pármenas, e Nicolau, prosélito de Antioquia; e os apresentaram ante os apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram as mãos. E crescia a palavra de Deus, e em Jerusalém se multiplicava muito o número dos discípulos, e grande parte dos sacerdotes obedecia à fé”, At 6.1-7 e ainda: “fui feito ministro, pelo dom da graça de Deus, que me foi dado segundo a operação de seu poder”, Ef 3.7
“Não removas os limites antigos”
Sob o título A doutrina dos batismos, um dos pioneiros assembleianos Antonio Torres Galvão, escreve no Mensageiro da Paz (1a quinzena de janeiro de 1937, pág. 5) e ensina que “O batismo com o Espírito Santo e fogo (Mt 3.11, Mc 1.8, Lc 3.16 e Jo 1.33)… também chamado ‘o poder do alto’ (Lc 24.49) ‘a promessa do Pai’ (At 1.4), ‘o dom do Espírito Santo’ (At 2.38), ‘o dom de Deus’ (At 8.20) e ‘o selo da promessa’ (Ef 1.13), implica preparo para trabalho, correspondendo à unção com azeite, mencionada no Velho Testamento e ministrada aos que eram chamados ao ministério do Senhor”.
“O batismo com o Espírito Santo é ainda uma prova da ressurreição e glorificação do Senhor Jesus Cristo. Por isso é administrado pelo próprio Filho de Deus. As condições para se receber este batismo, encontramos nos capítulos 14, 15-16 do Evangelho segundo João (…) “…apesar de pertencer à esfera terrestre do Reino de Deus é, todavia, de caráter espiritual, visto que é administrado pelo próprio Senhor Jesus Cristo. O quarto faz parte da nossa disciplina e experiência, a fim de que sejamos aptos para toda a boa obra (2Tm 3.17)”.
Nunca se teve notícia, nem na história bíblica e muito menos na da assembleiana de um membro da igreja batizar outro. Será que os padrões assembleianos serão desprezados? Que o legado deixado por nossos pioneiros será jogado às traças? Isso é um verdadeiro absurdo e por isso não pude deixar de expressar-me, pois trata de ataque à base doutrinária e, sem ela, seríamos reduzidos ao Movimento G-12. Desde o princípio, a partir da escolha dos apóstolos, está patente o selo do Espírito: “…veio sobre eles o Espírito Santo e falavam em línguas…” (At 19.6) e ainda sobre a direção da escolha: “… pareceu bem ao Espírito Santo e a nós” (At 15.28).
Relapso
A quebra de paradigmas que representam o vigor da doutrina cristã reflete o relaxamento da nossa identidade e a perda de representação e respeito adquiridos ao longo desses 100 anos. A Assembleia de Deus no Brasil sempre recebeu o respeito pela representatividade, que ocorre pela preservação e proximidade da doutrina genuinamente cristã.
Sabedor das diretrizes doutrinárias bíblicas, Ronaldo fez questão de inserir sua imagem batizando uma pessoa em águas, uma vez que a palavra final de cada edição do programa (revisão final e aprovação de imagens) é dada por ele. A Bíblia é clara quanto ao desejo humano de possuir o espiritual à revelia: “O homem não pode receber coisa alguma, se lhe não for dada do céu” (Jo 3.27).
É o mesmo vento que aprova participação da Ceia do Senhor de pessoas não batizadas, de igrejas tidas como cristã, incluindo o catolicismo romano etc. Também de descaracterização do batismo nas águas, aceitando o pedobatismo e o de aspersão, dentre outras formas teológicas liberais. A Bíblia chama a atenção dessas tendências humanas: “e a unção, que vos recebestes dele, fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas como a sua unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como ela vos ensinou, assim nela permaneceis”, 1Jo2.27.
É a expressão do verdadeiro desprezo, tratamento com desdém das coisas sagradas. No memorial da Ceia do Senhor a Bíblia trata dos que não distinguem o corpo do Senhor, por não fazerem separação entre o sagrado e o comum, ordinário. O apóstolo Paulo ainda chama a atenção para a observação das ‘diretrizes básicas’ cristãs.
Inovação e novos modelos
Pastor Esequias Soares ensina que “Os fundadores de seitas costumam usar supostas revelações para enganar o povo”, como o G-12, justamente por estabelecer fundamentos em pensamentos humanos e não na Palavra de Deus. Somente a Bíblia é a fonte de autoridade na fé cristã (Is 8.20). Na filosofia da Igreja em Células “todos os crentes têm a unção e a capacidade para o ministério pastoral, assim, todos os crentes são pastores”, a partir de “princípios subjetivos”.
Esequias cita Valnice, notadamente “contra o atual sistema de governo da igreja, dizendo: ‘O modelo tradicional de igreja, centralizado em um pastor, um prédio e programas, já teve 17 séculos de atuação e deixou metade do mundo não evangelizado’. Mais adiante acrescenta’: ‘No modelo de Bogotá toda a estrutura visa, de fato, fazer de cada discípulo um ministro, um líder… (Valnice Milhomens, Op. ci., pp. 40-43).’”
Pastor Geremias Couto, ao falar de “possíveis distorções”, diz das chamadas “Igrejas Amigáveis (água com açúcar)”, com a ideia de que “a igreja precisa estar aberta ao novo, mas nem tudo que é novo é bom. Nem toda novidade tem legitimidade. É necessário pensar”, e sentencia: “Não é preciso mudar o modelo assembleiano, que tem funcionado no decorrer do tempo. Davi não sabia usar a armadura de Saul, mas sabia perfeitamente usar a funda, com eficiência que ia além da capacidade ou condições de vencer batalha que a armadura oferecia a Saul”.
“Ninguém toma para si essa honra, senão aquele que é chamado”.
Foto: Blog Missões aos Povos
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Pastor Mesquita,
A paz do SENHOR.
Existe alguma coisa no regimento interno ou no estatuto da convenção que proiba um membro de batizar outro ?
E eu pensava que o irmão Ronaldo fosse evangelista.
Em Cristo,
Joabe
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É Ir. Mesquita…
“Mt 24.10: Nesse tempo muitos hão de se escandalizar, e trair-se uns aos outros, e mutuamente se odiarão.”
Quanto mais se aproxima a volta de Cristo, mais temos passado, visto situações que só colaboram para manchar uma imagem tão linda construída em quase 100 anos.
Fazer o que? Senão mostrar que não aceitamos as modernas invencionices?
É aquela máxima de que “o que nos une é mais forte do que o que separa”.
Maranata.
Em Cristo,
Ir. Márcio Cruz
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Olá,
Entendo seu posicionamento, porém, não encontro base bíblica para que só e somente o clero (líderes) da “igreja” possam batizar os que creram no evangelho.
Jesus, sendo o maior dos líderes, não batizou (Jo 4:2), mas ensinou e ordenou seus discípulos a fazerem (Mt 28:18-20).
Não faço parte do G12, porém, entendo que todo aquele que se torna filho, também se torna embaixador de Cristo na terra, tendo assim, autoridade do Pai para realizar o Batismo em nome dAquele que o enviou.
No amor de Cristo,
Junior Della Mea
http://www.viverepensar.wordpress.com
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Saudações cordiais na paz do Senhor!
Caro pastor Antônio será que não esta faltando fazer algumas analises bíblicas?
Consulte a bíblia sobre o tema batismo.
Creio que a nação de quem pode ou não irá mudar!
Grato,
Franklin de Almeida Salles.
Acadêmico em Tecnol. em Agronegócios e Psq em Gestão Estratégica para os Agronegócios e Teologia Bíblica.
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A Paz do Senhor.
Parabéns ao pastor por levantar essa questão importante que será extendida a muita gente que nunca pensou nisso.
Com muito respeito, coloco o seguinte:
Se uma pessoa deseja ser batizada eu devo recusar batizá-la porque não sou pastor? É mais importante obedecer os costumes ou estatutos da AD ou a Bíblia?
A Grande Comissão é regulamentada por estatutos humanos?
Se a Grande Comissão foi dada somente a pastores então é claro que somente eles poderão pregar e batizar.
Se foi dada a todos os cristãos e estes, leigos, não pudessem batizar seria: “Ide por todo o mundo, ensinai e trazei os novos discípulos à Igreja para que uma autoridade eclesiástica os batize.”
Quanto a remover limites antigos, Jesus também teve que romper alguns, baseados não nas Escrituras, mas nas tradições dos anciãos. Mt 15.
Que o Senhor continue abençoando este blog e nos ajude a compreender a sua vontade.
Abraço.
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Meus irmãos,
Concordo com o posicionamento do Pr. Mesquita. Realmente na Bíblia não existe nenhuma orientação para que somente o clero realize batismos porém Deus nos deu a liberdade para constiuirmos normas, leis e estatutos a serem seguidos. Na Bíblia também não diz que somente os batizados poderiam participar da cerimônia da comunhão (Santa Ceia) ou que somente os pastores poderiam realizar cerimônias de casamento. No entanto essas são normas e regras criadas para regulamentar e ordenar as cerimônias.
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pastor mesquita
quer dizer que no entender do irmao, as tradições estão acima da Bíblia.
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